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Posso plantar pasto na poeira?

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Plantar na poeira’, uma prática que em algumas regiões é chamada de ‘plantar no cedo’ ou ‘plantar no pó’, significa semear em solo seco onde as sementes permanecem à espera de chuvas por vários dias. Esse é um risco ao qual alguns produtores, principalmente no Brasil Central, se mostram dispostos a correr na formação de pastagens. Apontam como justificativas a chance de antecipar a formação como resultado do aproveitamento das primeiras chuvas, a maximização do uso de equipamentos, em especial nos casos em que há pouco equipamento e muita área a ser plantada, e a disponibilização de funcionários e de equipamentos para outros cultivos.

A possibilidade de formar pastos plantando na poeira resulta do fato de que, quase sempre, no final do inverno os solos de vastas regiões do Brasil Central estão muito secos, permitindo que as sementes nele plantadas se mantenham também secas. Cabe lembrar que baixo teor de água é um dos fatores que mais contribui à manutenção da viabilidade das sementes.

Entretanto, enquanto permanecem secas no solo à espera de chuvas as sementes estão sujeitas à destruição por microrganismos, insetos, roedores e aves. E a riscos adicionais. Apesar de historicamente na região mencionada as chuvas começarem na primavera, a época do início e os volumes das primeiras chuvas variam a cada ano. Para que a germinação aconteça, a semente deve absorver determinada quantidade de água. Quando chove pouco logo após a semeadura, a germinação pode ser iniciada, porém não concluída. Ou pode nem mesmo ser iniciada, se a água absorvida pela semente for suficiente apenas para aumentar a taxa da sua respiração e acelerar sua deterioração, uma condição que, ademais, favorece o ataque de fungos fitopatogênicos. De qualquer modo, nesses casos as sementes morrerão e a formação da pastagem será prejudicada. Todos esses fatores compõe o alto grau de risco desse tipo de plantio.

Há, entretanto, alguns atenuantes para esse cenário. Grande parte das espécies de gramíneas tropicais usadas como pastagens é adaptada a certas variações das condições de ambiente sob as quais a germinação de suas sementes pode ocorrer. Um dos mecanismos dessa adaptação é a capacidade de suspender por algum tempo o processo de germinação se a disponibilidade de água no solo alcançar nível insuficiente e de reiniciá-lo após a ocorrência de chuvas adicionais. 

Esse fenômeno (chamado ‘hidropedese’), entretanto, só acontece se a insuficiência de água ocorrer antes que a germinação tenha alcançado o estágio da emergência da raiz primária. Ou seja, desde que a emergência da raiz primária não tenha ocorrido, a germinação fica interrompida por algum tempo e pode ser reiniciada se houver retorno da disponibilidade de água no solo; claro, se isso não ocorrer as sementes morrerão. Essa característica das sementes desse grupo de gramíneas atenua, até certo ponto, os riscos do plantio na poeira causados por pouca chuva após a semeadura.

Outro mecanismo de adaptação foi sugerido por dois pesquisadores australianos. Silcok & Johnston (1993) argumentaram que, por algumas horas após uma chuva, as várias glumas que compõem a espigueta (‘semente’) de espécies de gramíneas tropicais retardam a absorção de água pela cariopse localizada em seu interior. Afirmaram que isso previne o pronto início do processo de germinação se a disponibilidade de água no solo for pouca em razão de baixa precipitação pluvial (inferior a 12 mm) ocorrida logo após a semeadura. Em assim sendo, lembram que essa proteção não existe em sementes escarificadas cujas glumas são porosas e, portanto, incapazes de retardar a absorção de água pela cariopse.

Isso nos permite concluir que, se os argumentos desses pesquisadores forem válidos, então o uso de sementes escarificadas de gramíneas não é recomendado para semeaduras na poeira pelo fato de serem mais susceptíveis aos riscos associados a este tipo de plantio.
Uma alternativa para atenuar tais riscos é semear sementes revestidas com determinados polímeros hidrofóbicos. Esse processo industrial de revestimento, chamado de ‘pelicularização’ ou de ‘film coating’, evita que as sementes absorvam água a menos que esta esteja disponível em nível suficiente para a conclusão da germinação. Aparentemente, seus efeitos são potencializados quando associado ao tratamento com determinados fungicidas e inseticidas. Os potenciais benefícios dessa alternativa recentemente começaram a ser explorados no Brasil com sementes de plantas forrageiras.

Sobre esse tema, leia também em:
ASSIS, O.B.G.; LEONI, A.J. Protein hydrophobic dressing on seeds aiming at the delay                     of undesirable germination. Scientia Agricola, v.66, n.1, p.123-126, 2009.
COOK, S. Pasture establishment on old cropping country in Southern Queensland.                         Tropical Grasslands, v.41, p.191-199. 2007.
MARCOS-FILHO, J. Germinação. In: Marcos-Filho, J. Fisiologia de sementes de plantas                     cultivadas. 2ª ed. ABRATES, Londrina. Cap. 8. p.289-372. 2015.
SILCOCK, R.G.; JOHNSTON, P.W. Tropical pasture establishment. 9. Establishing  new                       pastures in difficult tropical environments – do we expect too much? Tropical                           Grasslands, v.27, p.349-358, 1993.

Esse texto pode ser citado do seguinte modo:
SOUZA, F.H.D. 2020. ‘Posso plantar pasto na poeira?’ Disponível em:                                                       https://progreseed.com.br/ posso-plantar-pasto-na-poeira/ Acessado em dia/mês/ano.

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