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Porque as gramíneas forrageiras produzem tantas ‘sementes chochas’?

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Lotes não beneficiados de sementes de grande número de espécies de gramíneas forrageiras, em especial as de clima tropical, contém alta proporção de ‘sementes chochas’. Esse é o nome popular dado no Brasil a glumas vazias, isto é, desprovidas de cariopse. Lembrando: cariopse é o nome técnico do fruto seco típico das gramíneas, cujas paredes involucram e se fundem às da semente propriamente dita. Para se ter uma ideia, é comum a presença de mais de 70% de ‘sementes chochas’ em lotes de sementes brutas de várias espécies do gênero Urochloa (syn. Brachiaria). Esse nome popular, ainda que impróprio (uma vez que tal estrutura não contém uma semente), talvez possa ser justificado pelo fato de a ‘semente chocha’ apresentar forma, cor e tamanho idênticos à de uma ‘semente pura’, ou seja, de glumas que contém uma cariopse. Na análise de pureza física de amostras de lotes, as ‘sementes chochas’ são classificadas como impurezas. Para fins de comercialização, sua presença nos lotes é reduzida por meio de beneficiamento até que sejam alcançados os níveis de impurezas legalmente tolerados para cada espécie.

Tamanha produção de ‘sementes chochas’ tem múltiplas razões, das quais várias são natureza genética. Por exemplo: nas flores (que nesse grupo de plantas são chamadas de ‘flósculos’) óvulos podem ser abortados ou tornarem-se estéreis por falhas ou defeitos cromossômicos ocorridos na sua gênese. Pelas mesmas razões, os grãos de pólen podem ser estéreis, diminuindo a fecundação de óvulos, ou podem ser produzidos em quantidades muito pequenas, limitando a polinização. A viabilidade dos grãos de pólen produzidos pode ser reduzida por condições ambientais que aceleram sua dessecação, comprometendo a fertilização dos óvulos. Óvulos podem ainda ser destruídos por doenças e por pragas se não apresentarem mecanismos de resistência geneticamente determinados para esses estresses bióticos.

Todos esses fatores contribuem para que seja baixa a produção de sementes puras e alta a produção de ‘sementes chochas’ por plantas de muitas espécies de gramíneas usadas como pastagens. Além disso o problema pode ser agravado por causas agronômicas e ambientais. Por exemplo:

  1. níveis insuficientes de certos micronutrientes (B, Ca) na planta podem resultar em falhas na germinação do grão de pólen, prejudicando a fecundação de óvulos;
  2. colheitas muito antecipadas inevitavelmente coletarão flósculos que não tiveram tempo de iniciar ou de completar a formação da semente em seu interior, enquanto que colheitas tardias poderão encontrar maior proporção de glumas vazias conectadas às inflorescências em consequência da degrana (isto é, desconecção da inflorescência e queda naturais) das sementes puras;
  3. a proporção de ‘sementes chochas’ nos lotes varia conforme o método de colheita utilizado. Por exemplo, ela é maior em lotes colhidos com colhedeira automotriz e menor quando colhidos pelo método da varredura (a ser futuramente descrito nesta página web);
  4. doenças e pragas que atacam as folhas reduzem o suprimento de produtos da fotossíntese aos óvulos e, em consequência, também o número (e o tamanho) de sementes formadas;
  5. fertilização nitrogenada excessiva ou feita em época inadequada pode resultar em crescimento vegetativo exuberante e tombamento das plantas;
  6. clima desfavorável na fase reprodutiva (chuvas e ventos excessivos, baixa umidade relativa do ar, períodos prolongados de baixa radiação solar e de baixa disponibilidade de água no solo, neblinas frequentes, baixas temperaturas, etc.) prejudica a antese, a polinização, e a fecundação dos óvulos.

Todos esses fatores tem impacto sobre a proporção de ‘sementes chochas’ presentes nos lotes colhidos.

A baixa taxa de formação de sementes puras geneticamente determinado nesse grupo de espécies não pode ser aumentado por meio de práticas agronômicas. Por meio de melhoramento genético isso talvez possa ser conseguido em determinadas espécies/ cultivares. Há, entretanto, alternativas agronômicas para evitar que a proporção de ‘sementes chochas’ seja ainda maior. Por exemplo:

  1. Suprir as plantas com os nutrientes cujos níveis se mostrarem deficientes (especialmente alguns dos micronutrientes) com base em resultados de análises de solo e foliar;
  2. preferir áreas de menor probabilidade de ocorrência de eventos climáticos desfavoráveis para instalar campos de produção de sementes;
  3. monitorar e controlar pragas e de doenças, com especial atenção na fase reprodutiva das plantas;
  4. aplicar fertilizante nitrogenado em quantidades adequadas e nas épocas estratégicas para cada espécie/cultivar;
  5. programar cuidadosamente a época ideal à colheita (a qual varia conforme o método a ser empregado), de forma a evitar antecipações ou atrasos. Essa sugestão é irrelevante quando o método escolhido é o da varredura.

Há mais sobre esse assunto em:
HUMPHREYS, L.R.; RIVEROS, F. Tropical pasture seed production. FAO Plant Production              and Protection Paper, 8. FAO: Roma. 203p. 1986.
LOCH, D.S.; BUTLER, J.E. Effects of low night temperatures on seed set and seed quality
           in [Chloris gayana. Seed Science and Technology, v.15, p.593-597, 1987.
QUARIN, C.L. Effect of pollen source and pollen ploidy on endosperm formation and seed              set in pseudogamous apomitic Paspalum notatum. Sexual Plant Reproduction, v.11,               p.331-335, 1999.
RIOS, E.; BLOUNT, A.; HARMON, P.; MACKOWIAK, C.; KENWORTHY, K.; QUESENBERRY, K.                 2015. Ergot resistant tetraploid bahiagrass and fungicide effects on seed yield and                   quality. Plant Health Progress, v.16, n.2, p.56-62, 2015.
SOUZA, F.H.D. Produção de sementes para pastagens tropicais e subtropicais. In: Reis, R.A.;            Bernardes, T.F.; Siqueira, G.R. (eds.)  Forragicultura: ciência, tecnologia e gestão de             recursos forrageiros. 1ª ed., Jaboticabal: FUNEP. Capítulo 24, p.367-380. 2013.

Esse texto pode ser citado do seguinte modo:                                                                          SOUZA, F.H.D. Porque as gramíneas forrageiras produzem ‘sementes chochas’? Disponível          em:https://progreseed.com.br/porque-as-gramineas-forrageiras-produzem-tantas-                  sementes- chochas/ Acessado em dia/mês/ano.

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