A inevitável perda de vitalidade associada ao envelhecimento é uma característica de todos os seres vivos. Em sementes, a velocidade dessa perda é determinada pelas condições ambientais de temperatura e de umidade relativa (%UR) sob as quais são armazenadas e pela sua condição intrínseca, descrita em termos de genótipo, qualidades fisiológica e sanitária, integridade física e teor de água. Mesmo condições ‘ideais’ de armazenamento fazem não mais que retardar a perda de qualidade fisiológica culminada pela morte da semente.
As embalagens desempenharem papel modulador de interações entre as sementes e o ambiente de armazenamento e, por esse motivo, estão associadas às taxas de envelhecimento e, portanto, também de perda de qualidade fisiológica das sementes. Os tipos de embalagens disponíveis para sementes ortodoxas (i.e., que toleram dessecação) diferem entre si quanto ao grau de permeabilidade. Esse grau determina a facilidade com a qual as sementes interagem com a atmosfera do local onde se encontram; quanto maior a permeabilidade mais fácil é essa interação. São permeáveis as embalagens feitas, por exemplo, de papel, de tecido de algodão, de fibra de polipropileno e de alguns outros materiais.
Então, nessas embalagens as sementes equilibram seu teor de água com a %UR preponderante no local onde se encontram armazenadas, o qual, quando não controlado, varia amplamente. Tal variação é exemplificada por dados experimentais obtidos por Usberti (2007) que mostraram que sementes nuas de Brachiaria brizantha cv. Marandu alcançam teor de água de 10% quando mantidas sob atmosfera com 45 -50 %UR, 12% sob 60 – 65 %UR e 14% sob 70 – 75 %UR a 25ºC.
Assim, durante o armazenamento podem ocorrer períodos durante os quais o teor de equilíbrio alcançado pelas sementes não favorece a preservação da sua qualidade fisiológica. Este tipo de embalagem pode, no entanto, ser usado sob tais condições, desde que a) o período previsto de armazenamento seja inferior a um ano, b) o teor de água das sementes no início do período seja inferior a 12% e c) as condições de temperatura e de %UR do armazém permitam a manutenção deste teor, ou de outros, inferiores a este.
Embalagens semipermeáveis, como aquelas de múltiplas folhas de papel kraft ou de folha de papel revestida com asfalto, com lâmina de alumínio ou de polietileno de baixa densidade, retardam, porém não impedem, trocas de umidade entre as sementes e o ambiente. Por essa razão, quando armazenadas nessas embalagens e mantidas sob alta %UR, se comparadas às embalagens permeáveis, as sementes com baixo teor de água demandarão maior tempo para alcançar teores mais altos como resultado de equilíbrio higroscópico. E enquanto durar esse retardamento a taxa de perda de sua qualidade fisiológica será reduzida.
Essa é a razão pela qual, também nesse caso há que se iniciar o armazenamento com as sementes apresentando teores de água inferiores a 12%, preferencialmente entre 6 – 7%, ainda que tais embalagens não os preservem por muito tempo sob condições ambientais não controladas. A qualidade fisiológica de sementes de gramíneas forrageiras pode se manter por 12 a 18 meses nessas condições, a depender dos vários outros fatores também condicionantes da longevidade das sementes, já citados.
Assim, a vantagem proporcionada pelas embalagens é inversamente proporcional ao seu grau de permeabilidade. Entretanto, em se tratando de armazenamento de sementes em embalagens permeáveis e semipermeáveis, há alguns fatos adicionais a serem considerados. Um deles é a relação superfície : volume. Essa proporção aumenta em ordem inversa ao tamanho da embalagem. Quer dizer: quanto menor ela for, maior será a superfície de sementes exposta à atmosfera ambiente. Por esse motivo, quanto menor a embalagem, menos permeável ela deve ser para que a qualidade das sementes seja preservada pelo período desejado.
Outro fato: dentro dos armazéns, os efeitos sobre as sementes resultantes do grau de permeabilidade das embalagens são alterados pela forma como os volumes são ali organizados. Isso ocorre porque, quando empilhados, os volumes e as sementes neles contidos restringem a translocação de vapor de água atmosférica entre si. Assim, as embalagens posicionadas mais externamente proporcionam certo isolamento à aquelas localizadas no interior da pilha. Por sua vez, dentro de cada volume de embalagem as sementes das camadas externas isolam as que compõem camadas internas. Por essa razão, o teor de água e a qualidade fisiológica das sementes das camadas superficiais das embalagens que se encontram mais expostas em uma pilha, variam mais amplamente que o das sementes das camadas interiores ou das embalagens situadas no interior da pilha.
Por sua vez, as embalagens impermeáveis, ao impossibilitarem trocas gasosas entre o seu conteúdo e o ambiente externo, permitem que as sementes conservem por longos períodos (por até anos!) o teor de água e a qualidade fisiológica por elas apresentado no início do armazenamento. A pré-condição para seu uso é que, ao serem embaladas, as sementes apresentem teor de água entre 6% e 10%. Essas embalagens podem ser tambores de plástico ou de metal dotados de fechos herméticos ou sacos de papéis especiais laminados, ou de filmes de plástico de polipropileno, dos quais há vários tipos disponíveis no comércio.
Vê-se, portanto, que onde o armazenamento é feito sob condições controladas de temperatura e de %UR, a importância do tipo de embalagem é menor do que quando feito sob condições não controladas. Entretanto, independentemente de controle ambiental, outros fatores devem ser considerados na escolha do tipo. Dentre eles estão o tempo desejado de armazenamento, a quantidade de sementes a ser embalada em cada volume e o modo pelo qual estes serão transportados, e as características e as propriedades físicas da embalagem associadas à facilidade de manuseio, de empilhamento, de transporte e de etiquetagem, além de durabilidade e de resistência. A relação entre o custo da embalagem e o da semente a ser embalagem é um parâmetro cuja consideração é inevitável.
Normas do Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento (MAPA) determinam que as embalagens devem ser novas e atender especificações de tamanho e de etiquetagem. Nos armazéns, os volumes devem ser empilhados sobre estrados de madeira, prateleiras ou piso que preserve as embalagens com suas sementes; nas pilhas devidamente identificadas, pelo menos duas faces do lote que a compõe devem mostrarem-se expostas à amostragem. Estas e outras determinações encontram-se listadas no seguinte endereço eletrônico: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/ insumos-agricolas/sementes-e-mudas/ legislacao.
Convém lembrar ainda que entre as pilhas deve haver espaço suficiente para possibilitar a circulação de ar e de pessoas. E que o armazém deve ser limpo, arejado, livre de roedores e de goteiras.
Interessado(a) sobre esse assunto? Então, leia mais em:
HARRINGTON, J.F. Packaging seed for storage and shipment. Seed Science and
Technology, v.1, p.701-709, 1973.
JUSTICE, O.L.; BASS, L.N. Principles and Practices of Seed Storage. USDA Agricultural Handbook 506. 289p. 1978.
PREVIERO, C.A.; RAZERA, L.F.; GROTH, D. Influência do grau de umidade e tipo de embalagem na conservação de sementes de Brachiaria brizantha. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.33, n.2, p.191-197, 1998.
USBERTI, R. Performance of forage tropical grass (Brachiaria brizantha) dormant
seed under controlled storage. Seed Science and Technology, n.35, p.402-413, 2007.
WARHAM, E.J. The effect of different packaging materials on moisture uptake by dry
wheat seed in simulated humid tropical conditions. Seed Science and Technology,
v.14, p.641-655, 1986.
Este texto pode ser citado da seguinte maneira:
SOUZA, F.H.D. 2020. Escolha de embalagens comerciais para sementes de plantas forrageiras. 4p. Disponível em: http: //www.progreseed.com/escolha-de-embalagens- comerciais-para-sementes-de-plantas-forrageiras/ Consultada no dia / mês / ano.
