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Atraso e lentidão na formação de pastagens tropicais: causas, efeitos e consequências

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Demora no alcance de cobertura plena da superfície do solo por plantas forrageiras após seu plantio pode ser uma má noticia em certas situações e uma necessidade em outras. Em sistemas convencionais de formação (exclusiva) de pastagens, ela significa retardo do início da exploração econômica da pastagem e, em consequência, também do retorno dos investimentos feitos no plantio. E mais: ela aumenta o período de exposição do solo descoberto às intempéries e facilita a invasão da área por plantas indesejáveis. Entretanto, há pelo menos um caso de sistema integrado de produção agrícola no qual esse atraso não só é desejável como também necessário. As causas dessa demora podem ter como origem fatores associados às condições de plantio, às plantas e às sementes.

O grau de contato das sementes com o solo influencia a velocidade de germinação e de emergência das plântulas dela resultante; havendo suficiência hídrica no solo, quanto maior o contato, mais rápida é a emergência. Para isso, desde que sejam consideradas suas limitações, o uso de rolo destorroador pós-semeadura pode dar grande contribuição. Também a época de plantio tem efeito sobre a velocidade de germinação e de emergência. Em certas regiões, plantios de espécies forrageiras tropicais no outono podem resultar em retardos pelo fato de o solo se apresentar mais frio nessa época do que no verão. 

Quando as sementes são cobertas por uma camada de solo superior a determinada espessura, as plântulas resultantes da germinação demandam maior tempo para emergir; aliás, se a camada for muito espessa, é provável que muitas morrerão antes mesmo que isso aconteça…Convém lembrar que as sementes de gramíneas forrageiras tropicais são pequenas se comparadas às de outras espécies de importância agrícola. Dentre elas a variação de tamanho se estende de, aproximadamente, 100 unidades por grama [Urochloa (syn. Brachiaria) brizantha cv. Xaraés] a 1.100 [Megathyrsus maximus (syn. Panicum maximum) cv. Aruana]. Em comparação, entre cultivares de soja (Glycine max), por exemplo, esse número varia entre 4,5 e 7.

Por essa razão o plantio de sementes de gramíneas forrageiras deve ser pouco profundo. Em sistemas convencionais de formação de pastagens, a regra é não ultrapassar 4 cm de profundidade em se tratando de sementes das cultivares de U. brizantha (cvs. Piatã, Marandu, Paiaguás, etc.), de U. decumbens, de U. humidicola, de U. ruziziensis e de híbridos dessas espécies, ou de 2 cm no caso de cultivares de M. maximus (cvs. Mombaça, Aruana, Zuri, Quênia, etc.) cujas sementes estão entre as menores dentre as espécies de forrageiras tropicais mais plantadas nos tempos atuais no Brasil.

Características intrínsecas das plantas de certas espécies determinam lentidão da fase de estabelecimento, ou seja, o alongamento do período entre a emergência da plântula e seu desenvolvimento em planta adulta. Dentre estas estão, por exemplo, as gramíneas Andropogon gayanus cv. Planaltina, Setaria anceps cv. Kazungula e U. humidicola [cvs. Tully (‘comum’), Tupi e Llanero], e algumas espécies de leguminosas do gênero Stylosanthes. Sob condições de clima e de solo típicos do Brasil Central, após emergirem sobre a superfície do solo as plântulas dessas espécies permanecem por vários dias sem apresentar crescimento vegetativo significativo antes de o reiniciarem mais tarde. Com muitas outras espécies e cultivares do mesmo grupo esse período de desenvolvimento restrito não ocorre.

Uma outra causa frequente de atraso na formação de pastagens é o plantio de lotes contendo alta proporção de sementes temporariamente incapazes de germinar mesmo se submetidas a condições ambientais favoráveis à a germinação. Esse fenômeno natural (‘dormência’) não se manifesta em igual intensidade em todas as sementes do lote e é superado de modo natural e gradual à medida que as sementes envelhecem. Por esse motivo, após o plantio, a germinação e a emergência das plântulas são distribuídas no tempo.

As espécies usadas como pastagens produzem sementes com níveis de dormência em proporção e persistência que variam entre cultivares, ano e local de produção e procedimentos secagem, de colheita e de beneficiamento. Em geral, é insignificante ou inexistente em lotes colhidos pelo ‘método da varredura’ (exceto nos casos da U. brizantha cv. Xaraés e U. humidicola cv. Llanero) e maior em lotes compostos por sementes colhidas diretamente das inflorescências pelo ‘método da colheitadeira automotriz’; quando ocorre, os níveis se reduzem à medida que avança o tempo em que as sementes permanecem armazenadas. A proporção de sementes dormentes em lotes, todavia, pode ser diminuída de modo artificial, por meio de métodos físicos ou químicos, que resultam em sementes escarificadas.

Dentre as cultivares de espécies forrageiras mais utilizadas nos dias atuais, a dormência pode persistir nos lotes em níveis significativos de 1 a 24 meses. Níveis altos e prolongados são frequentes em lotes de sementes dos capins tupi e lhanero (ambos da espécie U. humidicola) e do capim xaraés. Entretanto, são insignificantes ou inexistentes em lotes de U. ruziziensis colhidos pelo ‘método da palha’ e de cultivares de U. brizantha (exceto da cv. Xaraés) e M. maximus e de U. decumbens colhidos pelo ‘método da varredura’.

Do ponto de vista agronômico o plantio de lotes com alta proporção de sementes dormentes é de interesse em regiões onde a irregularidade ou escassez da precipitação pluvial é frequente. Nesse contexto o plantio desses lotes favorece o estabelecimento da pastagem (ainda que a longo prazo) ao aumentar a probabilidade de pelo menos parte das sementes plantadas germinar quando ocorrerem episódios de condições ambientais propícias à germinação. Em tal situação, taxas de semeadura (quilograma de sementes/ hectare) superiores às recomendadas para situações climáticas mais favoráveis aumentam as chances de êxito da formação da pastagem.

Em regiões onde o clima obedece a padrão mais favorável e previsível, entretanto, o plantio de lotes com tal característica não é recomendado, pois ao prolongar o período de estabelecimento, atrasa a formação, prejudica a exploração econômica da pastagem e causa outros problemas já mencionados. Sob essas condições, sementes com dormência profunda pouco contribuem à formação da pastagem. Isso significa que o estande resultante do plantio depende da quantidade plantada de sementes sem dormência. Por esse motivo, nessa situação é melhor calcular a taxa de semeadura com base em resultados do teste de germinação e não do teste de viabilidade (teste do tetrazólio) cujos resultados independem da proporção de sementes dormentes na amostra avaliada. 

Há, entretanto, situações nas quais o atraso da emergência das plântulas é desejado. É o que ocorre, por exemplo, em sistemas integrados de plantio (exemplo: ‘Sistema Santa Fé’), nos quais a semeadura de duas espécies (cultura produtora de grãos + planta forrageira) é feita simultaneamente, com enterrio das sementes. Nesse caso, atrasos da emergência da forrageira proporcionam vantagens ao desenvolvimento da cultura agrícola (exemplos: soja, milho, arroz, sorgo, milheto), diminuindo a competição que, de outro modo, seria exercida pela forrageira. Isso é obtido semeando-a em profundidade superior à recomendada para sistemas convencionais de formação de pastagens. O período de retardo da emergência das plântulas, entretanto, depende da interação de vários fatores dentre os quais, além da profundidade de semeadura, estão a espécie/cultivar, o tipo de semente, e a textura e o grau de umidade do solo. Desafortunadamente, ainda são poucas as informações documentadas sobre os efeitos dessas interações sobre atrasos da emergência de plântulas de forrageiras.

Em experimento conduzido em área de Latossolo Vermelho Escuro, em Goiânia (GO), Portes et al. (2000) mostraram que a emergência de plântulas de U. brizantha cv. Marandu (aprox. 140 sementes/grama) resultantes da germinação de sementes plantadas a 10 cm de profundidade, foi retardada em 13 dias quando comparada à emergência resultante do plantio a 3 cm de profundidade das sementes de milho, de sorgo, de milheto e de arroz.

 Em Dourados (MS), em um Latossolo Vermelho Distroférrico Argiloso, Ceccon et al. (2008) observaram que, 15 dias após o plantio, a emergência de plântulas resultantes da germinação de sementes de U. ruziziensis (média: 180 sementes/grama) semeadas a 6 cm de profundidade foi idêntica à aquelas semeadas a 2 cm e maior quando foram plantadas sementes revestidas; entre os diferentes tipos de sementes comparados, a emergência alcançou, em média, 16,3% no 5º dia após o plantio e 21% no 15º dia. 

Por sua vez, em estudo feito em casa de vegetação, também com Latossolo Vermelho Distroférrico, Pacheco et al. (2010) observaram atrasos de um a três dias na emergência de plântulas de U. brizantha cv. Marandu a partir da semeadura a 10 cm de profundidade e de 8 cm no caso de U. decumbens, U. ruziziensis e Megathyrsus maximus cv. Tanzânia. De acordo com o os autores, o pequeno atraso, ainda que significativo do ponto de vista agronômico, pode ser atribuído ao fato de o solo utilizado no experimento ter sido previamente peneirado e é provável que teria sido maior sob condições de campo.

Em conclusão, atrasos e lentidão na formação de pastagens tropicais podem ser tanto um problema quanto uma necessidade, dependendo do uso pretendido para a área plantada. Para evitar o problema ou atender a necessidade é preciso conhecer características das plantas e das sementes, assim como as boas práticas agronômicas de plantio. Enfim, é preciso exercitar a sensatez …

Detalhes sobre este tema podem ser encontrados em:
CECCON, G.; MATOSO, A.O.; NUNES, D.P. Germinação de Brachiaria ruziziensis em                           consórcio com milho em função da profundidade de semeadura e tipos de sementes.           In: Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 37. Londrina. Resumos. Londrina: IAPAR,                    2008. v.1. p. CD ROOM-1.
PACHECO, L.P.; PIRES, F.R.; MONTEIRO, F.P.; PROCÓPIO, S.O.; ASSIS, R.L.; PETTER, F.A.                       Profundidade de semeadura e crescimento inicial de espécies forrageiras utilizadas                para cobertura do solo. Ciência e Agrotecnologia, v.34, n.5, p.1211-1218, 2010.
PORTES, T.A.; CARVALHO, S.I.C.; OLIVEIRA, I.P.; KLUTHCOUSKI, J. Análise de crescimento de           uma cultivar de braquiária em cultivo solteiro e consorciado com cereais. Pesquisa                  Agropecuária Brasileira, v.35, n.7, p.1349-1358, 2000.
SOUZA, F.H.D. Produção de sementes para pastagens tropicais e subtropicais. In: Reis, R.A.;           Bernardes, T.F.; Siqueira, G.Z. (eds.) Forragicultura: ciência, tecnologia e gestão dos
        recursos forrageiros
. 1ª ed., Jaboticabal: UNESP. Capítulo 24, p.367-380, 2013.

Este texto pode ser citado da seguinte maneira:
SOUZA, F.H.D. Atraso e lentidão na formação de pastagens tropicais: causas, efeitos e
         consequências’. https://progreseed.com.br/atraso-e-lentidao-na-formacao-de-                           pastagens-tropicais-causas-efeitos-e-consequencias/ Acessado: Dia/Mês/Ano

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