Já faz algum tempo desde que a maior parte da produção e do comércio de sementes de plantas forrageiras tropicais no Brasil passaram das mãos dos ‘braquiareros’ (comerciantes e produtores não-tecnificados) para as mãos de técnicos e de empresários profissionais, qualificados, capazes de produzir sementes de qualidade satisfatória.
Grande parte dessa transformação foi estimulada pelo aumento da sofisticação da demanda, resultante da crescente preocupação de agricultores e de pecuaristas em reduzir riscos nas suas atividades. Para isto também contribuiu a busca das empresas do setor por formas de se diferenciar em mercado de produtos que se tornaram commodities agrícolas.
A oferta de sementes de melhor qualidade tem sido uma consequência importante desses fatos, porém não a única. Para atender a demanda tem sido necessário desenvolver técnicas, equipamentos e processos de produção e de beneficiamento. E isso tem permitido a oferta ao mercado de uma ampla variedade de opções de tipos de sementes (escarificadas, tratadas, peletizadas, incrustadas, etc.).
No entanto, novos problemas à indústria brasileira de sementes de forrageiras tropicais têm surgido antes que problemas antigos tenham sido superados. Desses, em algumas empresas um dos que ainda permanece é o controle da qualidade dos produtos. A avaliação da qualidade desse tipo de sementes é um desafio técnico respeitável e suas dificuldades muitas vezes resultam em problemas comerciais e legais, além de agrícolas.
As cultivares que integram esse grupo de plantas ainda conservam características selvagens. Suas sementes apresentam comportamentos e requisitos distintos daqueles apresentados por sementes espécies agrícolas tradicionais que, comparativamente, têm um longo histórico de domesticação. Em consequência, além de apresentarem problemas únicos de produção e de beneficiamento, as sementes de forrageiras tropicais apresentam problemas peculiares à avaliação da sua qualidade. Tais problemas se estendem desde a amostragem até a avaliação das qualidades física, fisiológica, genética e fitossanitária dos lotes.
Os testes de pureza física, de contaminação por sementes de plantas invasoras, de germinação e de viabilidade (ou seja, teste do tetrazólio) têm sido os principais, às vezes os únicos, utilizados por várias empresas para avaliar a qualidade dos lotes de sementes. Os benefícios ao controle de qualidade de outros testes têm sido muitas vezes ignorados.
As Regras Para Análise de Sementes, estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2009) oferecem uma base metodológica para vários testes. Sua utilização correta – e seus benefícios consequentes – dependem, fundamentalmente, de laboratoristas treinados e valorizados, para os quais não há alternativas para substituição.
Problemas resultantes de avaliação inadequada ou insuficiente de qualidade são frequentes quando as análises são feitas por pessoal insuficientemente treinado, quando são utilizados equipamentos de análise inadequados ou quando as amostras analisadas não são representativas dos lotes correspondentes.
De qualquer modo, os vários testes para a avaliação da qualidade de sementes de forrageiras tropicais, tanto quanto de qualquer outra cultura, só contribuem efetivamente à produção e ao mercado quando utilizados de modo padronizado e, sobretudo, conjunto. Afinal, a qualidade de um lote de sementes não pode ser satisfatoriamente caracterizada por alguns poucos atributos.
E mais: os testes de avaliação de qualidade das sementes tem seu valor e importância amplificados quando integram um plano geral de amostragem, que inclui o acompanhamento dos lotes, da sua produção até a entrega ao consumidor final. Em um plano bem composto, um conjunto de testes especificamente selecionados para cada etapa do acompanhamento descreve o status de qualidade do lote, permitindo decisões, interferências e ajustes eventualmente necessários durante seu processamento e manuseio.
Outra característica de um bom plano é sua adaptação às particularidades de cada empresa; há aquelas que produzem as sementes que comercializam, outras que comercializam sementes que compram de terceiros e outras que comercializam sementes de ambas as procedências. Além disso, as empresas se diferenciam também quanto ao mercado ao qual estão predominantemente voltadas.
Nas empresas nas quais um plano geral de amostragem se encontra efetivamente implementado, efeitos benéficos são percebidos não apenas na redução da frequência de problemas com o consumidor final, mas também no aumento da eficiência nos processos de compra, de produção, de beneficiamento, de armazenamento e de comercialização.
Resumindo: apesar do desafio que representa, o controle da qualidade de lotes de sementes de plantas forrageiras tropicais é alcançável por meio de capacitação e de planejamento. Basicamente, esse controle consiste de um conjunto de testes laboratoriais especificamente selecionados, associado a um plano geral de amostragem adaptado para cada empresa.
A adoção dessa associação permite distinguir uma empresa bem gerenciada, preocupada com a qualidade dos seus produtos e com a satisfação dos seus clientes, de uma empresa caracterizada por uma ‘herança braquiarera’.
Bibliografia citada:
BRASIL. Regras para análise de sementes. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento / SDA. Brasília. 395p. 2009. Disponível on-line em: https://www.gov.br/agricultura/pt- br/assuntos/laboratorios/arquivos-publicacoes-laboratorio/regras-para-analise-de- sementes.pdf/view
Esse texto pode ser citado da seguinte maneira:
SOUZA, F.H.D. 2022. Controle de qualidade em empresas brasileiras de sementes para pastagens tropicais. Disponível em: https://progreseed.com.br/controle-de-qualidade- em-empresas-brasileiras-de-sementes-para-pastagens-tropicais/.Acessado em dia/mês/ano.