A quantidade de sementes plantada por unidade de área é um dos principais determinantes do sucesso de muitos cultivos. Em se tratando de plantas forrageiras, para calcular essa quantidade, ou seja, para calcular a ‘taxa de semeadura’, é necessário conhecer a percentagem de Valor Cultural (%VC) do lote de sementes cujo plantio é desejado. Afinal, esse índice expressa a qualidade do lote quanto à proporção de sementes puras e germináveis (ou viáveis) que o compõem.
Por mais importante que seja, no entanto, essa informação não basta. Há que se conhecer também o peso médio das sementes do lote, seja ele descrito em termos de número de sementes por grama (ou por quilograma) ou de peso de 1000 sementes. Essa informação, quando usada em conjunto com a %VC, permite aumentar as chances de obtenção do número de plântulas por unidade de área considerado satisfatório para o início da formação da pastagem.
O peso médio de sementes nuas de gramíneas forrageiras, ou seja, aquelas não revestidas nem escarificadas, varia entre safras, e também em função de locais de produção, de tipo de beneficiamento a que são submetidas e do método utilizado para sua colheita. E esse peso é também alterado por qualquer um dos vários tipos de revestimento aos quais as sementes nuas podem ser submetidas.
Por exemplo, a incrustração pode aumentar de três a quatro vezes o peso das sementes nuas de Megathyrsus maximus (syn. Panicum maximum); aumentos ainda maiores podem resultar de pelotização. Isso ocorre porque os processos industriais de revestimento resultam em aderência de determinados produtos às sementes nuas, alterando seu peso. E não é só isso; uma vez que os métodos de revestimento utilizados pelas empresas são diferentes, é comum encontrar diferenças entre os pesos de sementes de uma mesma espécie/cultivar por elas comercializadas.
Essas variações não devem ser ignoradas por ocasião do cálculo das taxas de semeadura. Entretanto, o peso das sementes não é considerado no cálculo da %VC de forma que esse índice é calculado da mesma maneira para todos os tipos de sementes. A razão desse fato é que, ao serem avaliadas quanto à qualidade nos laboratórios, cada semente ou pelota (no caso de sementes pelotizadas) que compõe uma amostra é considerada uma unidade nas análises de pureza, de germinação e de viabilidade, independentemente do seu peso ou do tipo do seu revestimento.
Para exemplificar, consideremos um lote de sementes de M. maximus cv. Massai, de cujo plantio se espera um mínimo de 40 plântulas/m² para que a formação tenha boa chance de êxito (Tabela 1). Ora, as taxas de semeadura – se calculadas exclusivamente com base apenas na %VC – seriam as mesmas para dois tipos de sementes, quer sejam, nuas e incrustadas. No entanto, mesmo se for atribuída uma taxa comparativamente superior de emergência de plântulas resultante das sementes incrustadas (devido a produtos a elas agregadas, como fungicidas, nutrientes, etc.), ainda assim a taxa indicada pela %VC para esse tipo de sementes não seria suficiente para o alcance da meta de número de plântulas/m². Isso se deve ao fato de o número por grama das sementes incrustradas ser menor (no exemplo, 225) que o de sementes nuas (900).
Tabela 1.: Estimativa do número de plântulas/m² resultante do plantio de uma mesma
taxa de semeadura de lotes de dois tipos de sementes (nua e incrustada) de Megathyrsus maximus cv. Massai apresentando Valor Cultural (%VC) de 50%.
Então, com base nessa simulação, conclui-se que o número desejado de plântulas (40) só seria alcançado se fossem plantados 8,8 kg/ha das sementes incrustradas do lote com 50%VC, ou seja, o dobro da taxa calculada para o plantio do lote de sementes nuas. A importância da consideração do peso das sementes no cálculo da taxa de semeadura fica assim demonstrada. Cabe lembrar que o peso de 1000 sementes é uma das informações disponíveis nos ‘termos de conformidade de sementes’ os quais, por determinação legal no Brasil, devem acompanhar os respectivos lotes de sementes.
Inevitavelmente, a questão do valor a ser gasto com sementes por unidade de área plantada torna-se relevante diante essa constatação, porém há mais a ser considerado além de custos. Cada tipo de semente pode proporcionar benefícios potencialmente capazes de reduzir riscos à formação de pastagens. Os graus de relevância desses benefícios dependem de circunstâncias locais de plantio e de expectativas dos usuários. A eles cabe atribuir valores.
Mais sobre esse assunto pode ser encontrado em:
BRASIL. Análise de sementes revestidas. In: Brasil. Regras para análise de sementes. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento / SDA. Brasília. Capítulo 8, p.325- 333. 2009.
Esse texto pode ser citado da seguinte forma:
SOUZA, F.H.D. Calculando taxas de semeadura para lotes de sementes revestidas de gramíneas forrageiras tropicais. Disponível em: www.progreseed.com.br/calculando- taxas-de-semeadura-para-lotes-de-sementes-revestidas-de-gramineas-forrageiras- tropicais/ . .Acessado em Dia/Mês/Ano.