A significativa evolução da indústria brasileira de sementes de plantas forrageiras tropicais é testemunhada não apenas pelo grande volume que anualmente comercializa, mas também pela alta qualidade e pela variedade dos seus produtos. O aumento da sofisticação da demanda e o interesse das empresas em diferenciarem-se entre si estimulou a oferta de produtos com características e com propriedades especiais.
Como resultado, no caso de gramíneas forrageiras tropicais, atualmente no mercado brasileiro podem ser encontradas:
– Sementes nuas, às vezes também chamadas de ‘sementes convencionais’, são aquelas desprovidas de qualquer tipo de revestimento (recobrimento) artificial ou de tratamento, ou seja, não submetidas a nenhum outro tipo de processamento industrial além do beneficiamento pós-colheita;
– Sementes tratadas: são sementes nuas tratadas com fungicida, nematicida, inseticida ou algum outro produto; em vários casos recebem também um corante para permitir sua fácil identificação e alertar os usuários quanto à necessidade de cuidados especiais no seu manuseio. Estes tratamentos não alteram a forma nem o peso das sementes nuas;
– Sementes escarificadas: escarificação é um processo (químico ou físico) ao qual lotes de sementes nuas de algumas espécies/cultivares são submetidos para fins de superação da incapacidade temporária de germinar (‘dormência’) apresentada por parte das sementes que o compõem. Entretanto, algumas vezes é feita para atender requisitos fitossanitários de certos países importadores, independentemente da proporção de sementes dormentes contida no lote. Esse processo pouco altera a forma da semente, porém reduz seu peso;
– Sementes revestidas ou ‘recobertas’: destas, há vários tipos, entre os quais é comum os lotes serem submetidos a escarificação e a tratamentos com vários químicos além do revestimento propriamente dito. Os principais deles são:
a) Sementes pelotizadas: são sementes nuas que, ao serem recobertas por diversos produtos, têm sua forma alterada e seu peso original muito aumentado, em graus que dependem da espécie, do objetivo e do processo de pelotização utilizado. O recobrimento pode consistir da sobreposição de camadas de produtos com diferentes propriedades, dentre os quais estão colas, corantes e materiais inertes como calcário, caulim, aluminossilicatos argilosos, areia, celulose e polímeros, além de fungicidas, inseticidas, hormônios, inoculantes, bioestimulantes e nutrientes; sementes chamadas ‘nucleadas’ resultam de processamento idêntico ao da pelotização;
b) Sementes incrustadas: estas são sementes recobertas por produtos idênticos aos utilizados com as sementes pelotizadas, porém, em menores números, tipos e quantidades. Por isso, diferem das sementes pelotizadas por manterem a forma aproximada de sementes nuas, ainda que com tamanho e peso originais aumentados, mas não tanto quanto os resultantes de pelotização;
c) Sementes peliculizadas: são sementes revestidas por uma camada de polímeros (razão pela qual são também às vezes chamadas de ‘sementes polimerizadas’), fina o suficiente para não alterar seu tamanho ou sua forma. Quase sempre esse tipo de recobrimento é associado a outros produtos como fungicidas, corantes, nutrientes ou outros;
d) Sementes grafitadas: resultam do revestimento de sementes nuas com um filme de grafite que não altera a forma das sementes nuas e pouco altera seu peso.
O comércio dessas sementes tem sido feito com base em diversos argumentos (Tabela 1) cujos graus de relevância variam conforme o tipo. Comparadas às sementes nuas, alguns deles tem preço mais alto por quilograma. Além disso, por exemplo, o plantio de sementes pelotizadas ou incrustadas requer taxas de semeadura mais altas (ou seja, maiores quantidades de sementes a serem plantadas por unidade de área), pois seu número em cada quilograma é menor que o encontrado no de outros tipos de sementes. Por essa razão, além da %VC do lote a ser plantado, também o número de sementes por quilograma deve ser levado em conta no cálculo da taxa de semeadura. Isso será tema de um próximo comentário.
Tabela 1.: Principais benefícios potencialmente proporcionados pelo uso de diferentes tipos de sementes de gramíneas forrageiras tropicais, comparados aos resultantes do uso de sementes não submetidas a qualquer outro tipo de processamento industrial além de beneficiamento pós-colheita.
¹ Os benefícios proporcionáveis por cada tipo dependem dos processos e dos produtos usados para obtê-lo (os quais variam entre empresas) e das condições locais de plantio.
² Podem ser encontradas sementes submetidas a um único processamento industrial (escarificação, tratamento químico, grafitagem, polimerização) ou a combinações de processamentos, mas sementes pelotizadas e incrustadas invariavelmente são também submetidas à escarificação e à tratamentos químicos diversos.
Um argumento adicional a favor de sementes incrustadas e pelotizadas é a possibilidade de semeá-las com distribuidores de calcáreo, sem necessidade misturá-las com outros materiais como palha de arroz, serragem e certos tipos de fertilizantes, o que é às vezes feito para permitir o plantio de lotes de sementes nuas com alta %VC. Cabe lembrar que, a menos que sejam adaptados, alguns modelos desses equipamentos não permitem regulagens para o semeio de taxas inferiores a 10 kg/ha. Por outro lado, o recobrimento pode ter seus benefícios prejudicados pelo mecanismo de distribuição das sementes de alguns tipos equipamentos ao serem por ele rachados ou quebrados. Em alguns modelos esse problema pode ser resolvido por meio de ajustes especiais.
Assim, as chances do alcance dos potenciais benefícios econômicos proporcionados por essas categorias de sementes são maiores quando a escolha pelo usuário é feita com base nas suas reais necessidades e interesses. De qualquer modo, existe a possibilidade de as condições de solo, de clima e de plantio serem boas o suficiente para permitir uma bem sucedida implantação da pastagem por meio do plantio de sementes nuas. Entretanto, pelo fato de isso nunca ser uma certeza, muitos produtores optam pelo uso de sementes com atributos especiais, como estes aqui mencionados, como forma de reduzir riscos na implantação.
Mais sobre esse assunto pode ser encontrado em:
GIMÉNEZ-SAMPAIO, T.; SAMPAIO, N.V. Recobrimento de sementes. Informativo ABRATES, v.4, n.3, p.20-52, 1994.
HALMER, P. Seed technology and seed enhancement. Acta Horticulturae, v.771, p.17-26. 2008.
SCOTT, J.M. Seed coatings and treatments and their effects on plant establishment. Advances in Agronomy, v.42, p.43-83, 1989.
Esse texto pode ser citado da seguinte forma:
SOUZA, F.H.D. Os muitos os tipos de sementes de forrageiras tropicais e seus usos. Disponível em: https://progreseed.com.br/os-muitos-tipos-de-sementes
-de-forrageiras-tropicais-e-seus-usos/ Consultado no Dia / Mês / Ano.