O alcance do êxito em qualquer atividade depende, além de um pouco de sorte, de decisões bem fundamentadas. Estas, por sua vez, dependem de conhecimentos. Na agricultura, dentre tais decisões está a quantidade de sementes a ser plantada por unidade de área com vistas à obtenção da densidade de plantas desejada para cada cultura. Quantidades excessivas representam desperdícios de recursos e alguns riscos agronômicos (acamamento é um exemplo) enquanto que quantidades insuficientes significam perdas de produtividades resultantes de baixa densidade de plantas e de invasão da cultura por plantas indesejadas, por exemplo.
Em se tratando de sementes de plantas forrageiras, a forma consagrada para estimar a quantidade ‘ideal’, ou seja, a taxa de semeadura (quilogramas de sementes a serem plantados por hectare) mais apropriada é o cálculo da percentagem de Valor Cultural (%VC) de cada lote de sementes. O conhecimento desse índice é muito importante tanto para quem comercializa como para quem planta sementes desse grupo de plantas. A razão disso é o fato destas variarem amplamente quanto a preço e qualidade, muito mais do que o verificado entre sementes de outras culturas.
Para saber qual é o Valor Cultural de um lote de sementes, multiplica-se a percentagem de pureza física pela percentagem de germinação (ou de sementes viáveis) de uma amostra desse lote e divide-se o resultado por 100, ou seja:
%VC = (%pureza física x %germinação) ÷ 100
As porcentagens mencionadas são obtidas em análises feitas em laboratório de sementes. Assim, por exemplo, um lote contendo 80% de pureza física e apresentando 75% de germinação apresenta, portanto, Valor Cultural de 60%. Isso significa que cada quilograma desse lote imaginário contém 600g de sementes puras com capacidade de germinar; o restante (400g) é composto por impurezas físicas tais como fragmentos de plantas, torrões, glumas vazias, outras sementes, e sementes fisicamente puras, porém incapazes de germinar ou não-viáveis, etc..
Entretanto, por mais importante que seja, o Valor Cultural expressa apenas em parte a qualidade de lotes de sementes. Ele não reflete, por exemplo, o vigor das sementes, a pureza genética, a qualidade sanitária ou a contaminação do lote por sementes de espécies nocivas ou de outras espécies cultivadas. Todos esses parâmetros compõem a qualidade de um lote de sementes.
Também é relevante o fato de no seu cálculo as percentagens que o compõem, quer sejam, de germinação (ou de viabilidade) e de pureza física, tem pesos idênticos. Por essa razão, por exemplo, um valor cultural de 38% pode resultar tanto de 95% de pureza física e 40% de germinação quanto de 40% de pureza física e 95% de germinação. Valores como esses tem importantes implicações no desempenho agronômico dos lotes de sementes.
Alta percentagem de pureza física pode resultar em problemas que variam desde o travamento do sistema mecânico de distribuição das sementes até a contaminação da área de plantio por ovos de insetos, por fungos fitopatogênicos, por nematóides ou por plantas indesejadas. Por sua vez, baixa percentagem de germinação (ou de viabilidade) pode indicar baixo vigor do lote de sementes e a consequente possibilidade de problemas no estabelecimento da pastagem.
Essas são razões pelas quais não basta conhecer apenas a %VC; há que se verificar também os valores usados no seu cálculo que, de acordo com normas legais, devem estar mencionados na etiqueta das embalagens que compõem o lote de sementes. Essa verificação pode ser complementada pela avaliação do ‘certificado de sementes’ ou ‘termo de conformidade de sementes’ que acompanha cada lote, onde se encontram especificados e detalhados outros componentes da sua qualidade.
Conclusões:
1. O Valor Cultural incorpora dois importantes parâmetros da qualidade de lotes de sementes de forrageiras, ou sejam, pureza física e germinação (ou viabilidade).
Esses parâmetros são essenciais para o cálculo da taxa de semeadura ideal para
cada lote;
2. Na escolha do lote, seja para comercialização ou para plantio, os dois componentes
do cálculo da %VC (% pureza física e % germinação ou % viabilidade) devem ser
verificados e ponderados;
3. Há outros parâmetros de qualidade de lotes de sementes (exemplos: tipos de
impurezas físicas, pureza genética, vigor, qualidade sanitária, contaminação por
outras espécies, etc.) que não são expressos pela %VC;
4. Ou seja, conhecer a %VC é fundamental, mas pode não ser suficiente.
Leia mais sobre esse assunto em:
DAVIDSON, W.A. What labels tell and do not tell. In: Stefferud, A. (ed.) Seeds: The Yearbook of Agriculture. US Department of Agriculture. Washington. p.462-469. 1961.
McCORMICK, L.H.; LODGE, G.M.; BOSCHMA, S.P.; MURRAY, S. Simple rules to use when buying seed of tropical perennial grasses. Proceedings of the 24th Annual Conference of the Grassland Society of New South Wales, p.97-100, 2009.
Esse texto pode ser citado da seguinte forma:
SOUZA, F.H.D. ‘Até que ponto o Valor Cultural define a qualidade de lotes de sementes
de plantas forrageiras?’. Disponível em: https://progreseed.com.br/es/ate-que-ponto-o-
valor-define-a-qualidade-de-lotes-de-sementes-de-plantas-forrageiras/.
Consultado em Dia/Mês/Ano.