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Cultivo de Pastos Tropicais: Etapa do Estabelecimento das Plantas

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O resultado da germinação de uma semente de gramínea é uma plântula (i.e., “plantinha”) composta pelo coleóptilo contendo a plúmula (primórdios foliares) e pela raiz primária (Fig. 1); em algumas espécies dessa família de plantas algumas outras raízes seminais são também produzidas.

                           Figura 1: Desenho esquemático de uma plântula de gramínea 
                                           tropical usada como pastagem cultivada.

O crescimento vertical do coleóptilo a partir do embrião o faz emergir na superfície do solo, ocasião em que seu ápice é rompido pelos primórdios foliares. Esse processo é sustentado pelas reservas das sementes, mas à medida que os primórdios se tornam folhas, a plântula deixa de depender das reservas e se torna autotrófica, ou seja, capaz de produzir seu próprio alimento via fotossíntese. É quando a plântula se torna uma planta jovem.

Além de condições de clima e de solo e de procedimentos de plantio (profundidade, método), a emergência é condicionada pelo grau de maturação, tamanho, vigor e sanidade da semente. As sementes de gramíneas forrageiras tropicais são pequenas se comparadas ao tamanho de outras espécies agrícolas. Assim, em plantios profundos suas reservas podem ser exauridas antes que a emergência aconteça, impossibilitando-a; esse problema é mais frequente em solos argilosos (em especial quando compactados) que nos arenosos.

Entretanto, as plântulas de várias espécies de gramíneas apresentam uma estrutura permite a elas compensarem – até certo ponto – variações de profundidade de plantio. Trata-se do mesocótilo (Fig. 1), uma região situada entre a base do coleóptilo (nó coleoptilar) e o embrião da semente a qual, ao se alongar, ‘empurra’ o coleóptilo em direção à superfície do solo. O alongamento é maior ou menor, a depender da profundidade na qual a semente está posicionada no solo.

O tamanho das sementes está diretamente correlacionado à fragilidade das plântulas e, por esse motivo, a profundidade de plantio tem importância especial. É comum, por exemplo, a redução da emergência de plântulas quando sementes de cultivares de Megathyrsus maximus [sin. Panicum maximum] (650 – 1.100 sementes/g) são plantadas em profundidades superiores a 1,5cm; o mesmo ocorre com sementes de espécies do gênero Urochloa (U. brizantha, U. decumbens, U. ruziziensis, U. humidicola) [100 – 250 unidades/g], plantadas a profundidades superiores a 2,5cm.

No entanto, por várias causas, mesmo sob condições boas de plantio apenas uma fração (menos de 25%) das sementes viáveis plantadas resultam em plântulas emergidas. Exemplos dessas causas são: fragilidade das plântulas, irregularidades na profundidade de cobertura das sementes, baixo vigor das sementes, perdas de sementes por erosões, destruição por insetos, pássaros, microrganismos e roedores, extremos de temperatura e de umidade do solo, alelopatia, competição com plantas invasoras, etc. Por esse motivo no cálculo de taxas de semeadura, para cada espécie/ cultivar é necessário estimar uma taxa provável de emergência (nº plântulas/nº sementes puras viáveis plantadas) em função do grau de fragilidade das plântulas e das condições de plantio (época, método de plantio, tipo de preparo do solo, umidade do solo, etc).

O estabelecimento da pastagem é alcançado quando, a partir do plantio de sementes, se obtém a densidade desejada de plantas da espécie/cultivar escolhida, suficientemente desenvolvidas para permitir o início do pastejo da área plantada. Em plantios à lanço com cobertura das sementes, a emergência de pelo menos 20 plântulas/m² pode permitir o alcance dessa meta com espécies do gênero Urochloa, exceto U. humidicola que requer um número maior (aprox. 30 – 40), e 40 plântulas/m² no caso de cultivares de M. maximus. Como exemplo, a taxa de semeadura para um lote comercial de sementes nuas, i.e., não encrustadas ou peletizadas, de M. maximus cv. Zuri, apresentando 60% de valor cultural (%VC), pode ser calculada do seguinte modo: 
                 * 60% VC = 0,6g sementes puras viáveis (spv)/grama das sementes comerciais; 
                 * 0,6g spv x 700 sementes/g (que é um valor médio para essa cv.) = 420 spv/g                                sementes comerciais; 
                 * supondo 25% de emergência: 420 spv/g/m² x 0,25 = 105 plântulas/m² sementes                         comerciais; 
                 * se o desejado for 40 plântulas/m², então será necessário plantar 0,38g/m² das                           sementes comerciais, equivalentes a 3,8 kg/ha.

Esse resultado, entretanto, só seria adequado para situações ‘boas’ de plantio, ou seja, solo úmido e bem-preparado, plantio à lanço na época correta, sementes cobertas com solo em profundidade não superior a 1,5cm, área submetida a rolagem destorroadora no plantio. Para condições não tão ideais – o que geralmente é a norma – o cálculo deve ser feito com base em taxa de emergência inferior a 25%, escolhida arbitrariamente pelo interessado com base em experiência local, nas condições locais de clima e de preparo do solo e do método de plantio a ser utilizado.

Esse cálculo pode também ser feito objetivando um número de plântulas superior a 40/m². Esse número, entretanto, não deve ser muito maior, caso contrário poderá ocorrer morte de grande parte das plantas jovens em consequência do acirramento da competição entre elas por água, luz e nutrientes.

Assim, se no cálculo da taxa de semeadura for considerada uma taxa de emergência de 15%, buscando-se 60 plântulas/m², essa taxa será 9,5 kg/ha das sementes do lote comercial de capim-zuri com VC de 60%, aqui usado como exemplo. Germinação e estabelecimento são etapas fundamentais da formação da pastagem, mas êxito da formação depende ainda de um primeiro pastejo criterioso. Mas isso é outra história…

Há mais sobre esse assunto em:
COOK, S. Pasture establishment on old cropping country in southern Queensland. Tropical           Grasslands, v.41, p.191-199, 2007.
HOPKINSON, J.M. Tropical pasture establishment. 2. Seed characteristics and field                           establishment. Tropical Grasslands, v.27, p.276-290, 1993.
SILCOCK, R.G. Seedling characteristics of tropical pasture species and their implications for           ease of establishment. Tropical Grasslands, v.14, n.3, p.174-180, 1980.
SILCOCK, R.G.; JOHNSTON, P.W. Tropical pasture establishment. 9. Establishing new                         pastures in difficult tropical environments – do we expect too much? Tropical
         Grasslands, v.27, p.349-358, 1993.

Agradecimento:
o Autor agradece ao Engº Agrº Luciano Paiva Gomes (SEMPA Sementes Ltda.) pelos valiosos comentários que fez sobre esse texto.

Esse texto pode ser citado da seguinte forma:
SOUZA, F.H.D. 2024. Formação de pastagens: emergência e estabelecimento. Disponível             em: https://progreseed.com.br/formacao-de-pastagens-emergencia-e-estabelecimento
      -das-plantas/ Acessado em dia/mês/ano.

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